Mesmo com a melhora dos indicadores educacionais no Brasil em 2024, o analfabetismo segue fortemente concentrado no Nordeste. Segundo dados da PNAD Contínua divulgados pelo IBGE, a região reúne 5,1 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais, o equivalente a 55,6% de toda a população analfabeta do país. Esse número contrasta com o avanço nacional: a taxa de analfabetismo caiu para 5,3%, a menor da série histórica iniciada em 2016.
Mas por que o Nordeste ainda lidera esse índice?
Herança histórica de exclusão educacional e atraso estrutural
A explicação começa por fatores históricos. Durante décadas, o o à educação básica no Nordeste foi marcado pela desigualdade em relação a outras regiões, especialmente o Sul e o Sudeste. O investimento público em escolas, formação de professores e infraestrutura educacional foi desproporcional, deixando milhões de nordestinos fora da escola — especialmente os mais pobres e os que vivem em áreas rurais.
Isso explica, por exemplo, o alto índice de analfabetismo entre os idosos da região: em 2024, 14,9% das pessoas com 60 anos ou mais no Brasil ainda eram analfabetas, e grande parte delas vive no Nordeste. Como destaca o analista do IBGE William Kratochwill, “as novas gerações estão sendo alfabetizadas, mas os mais velhos não tiveram esse o. É um legado de abandono educacional que persiste no tempo”.
Desigualdade racial, evasão escolar e barreiras de o
Outro fator relevante é o perfil racial e socioeconômico da população nordestina. A taxa de analfabetismo entre pretos e pardos é mais que o dobro da registrada entre brancos: 6,9% contra 3,1%. E no Nordeste, a maioria da população se identifica como preta ou parda, o que intensifica os efeitos das desigualdades históricas.
Além disso, o Nordeste também apresenta os maiores índices de abandono escolar precoce. Em 2024, 7,8% dos jovens nordestinos deixaram a escola até os 13 anos — a maior taxa do país. A evasão aumenta a partir dos 15 anos, quando muitos abandonam os estudos para trabalhar, cuidar da casa ou por falta de interesse e perspectiva.
Outro obstáculo é a falta de creches e escolas infantis. O IBGE apontou que 42,2% das crianças nordestinas de 2 a 3 anos estão fora da creche por falta de vagas ou unidades próximas. Isso prejudica o início do processo educacional e contribui para o atraso ao longo de toda a trajetória escolar.
Desigualdade persiste apesar dos avanços
O cenário educacional do país apresenta sinais de avanço: a média nacional de anos de estudo subiu para 10,1 anos; e 56% das pessoas com 25 anos ou mais completaram a educação básica obrigatória. No entanto, no Nordeste, essa média é inferior à nacional, puxada pela baixa escolaridade dos adultos e idosos que não tiveram oportunidade de estudar no ado.
Embora as novas gerações tenham maior o à educação, o impacto cumulativo da exclusão histórica, da desigualdade racial, da pobreza e da evasão escolar continua mantendo o Nordeste como a região com maior número absoluto de pessoas analfabetas no Brasil.
Especialistas destacam que, para reverter esse quadro, é preciso mais que manter crianças na escola. São necessárias políticas públicas focadas na alfabetização de adultos, expansão de creches e combate à evasão no ensino médio, além de ações específicas para garantir equidade racial e social no o à educação.